Câncer de mama: O que você deve saber e pode fazer para se prevenir?
“O câncer de mama (Ca de mama) é a segunda forma mais comum de câncer nas mulheres americanas, perdendo apenas para os cânceres de pele. No Brasil, o câncer de colo de útero é ainda muito freqüente, diferentemente dos EUA. Aproximadamente 180.000 novos casos de câncer de mama são diagnosticados por ano nos EUA sendo responsáveis por cerca de 48.000 mortes anualmente, sendo a segunda causa de morte por câncer, perdendo apenas para o câncer de pulmão. Após um crescimento de 4% ao ano na década de 80, a incidência tem-se mantido atualmente em 110 casos por 100.000 pessoas por ano. As formas de rastreamento estão modificando à medida que se conhece mais sobre a história natural da doença. Devido ao maior conhecimento dos sinais e sintomas dessa doença e do uso da mamografia de rastreamento, tem-se conseguido diagnosticar cada vez mais as formas iniciais desses cânceres. Aprenda a fazer o auto-exame, a prevenção é a melhor maneira de evitar esta doença”.
Um estudo de revisão dos aspectos clínicos (sintomas, sinais e exame físico) e de exames laboratoriais foi feito pela Dra. Lecia M. Apantaku da Faculdade de Medicina de Chicago Finch University of Health Sciences EUA. Nesse estudo ela expõe a atualidade destes aspectos enfatizando a importância da observação e cuidado das próprias mulheres para com suas mamas como a melhor forma de prevenção e/ou descoberta precoce. Um resumo do mesmo foi publicado na revista médica American Family Physician.
Aspectos Demográficos
O índice de Cancer de mama cresce à medida que se envelhece, sendo que as mulheres brancas têm maior chance de desenvolvê-lo. Entretanto, as negras têm uma maior incidência do que as brancas antes dos 50 anos. É importante lembrar que 1% dos Ca de mama acomete homens, por isso eles devem procurar auxílio quando perceberem alguma alteração.
Fatores de Risco
Vários fatores de risco bem estabelecidos estão associados ao desenvolvimento de Ca de mama, mas é muito importante ressaltar que muitos casos ocorrem sem nenhum fator de risco identificável:
– Idade: maior que 50 anos;
– História familiar: parentes do primeiro grau (mãe, filha, irmã) especialmente se o Ca foi diagnosticado antes da menopausa (risco 3 a 4 vezes maior). A presença de vários parentes de segundo grau pode aumentar o risco, mas ainda não foi quantificado;
– Exposição hormonal (leva a maior multiplicação de células mamárias o que predispõe a um maior número de mutações) situações em que a mulher se expõe um maior tempo ao estrógeno, seja através de ciclos menstruais fisiológicos ou através de hormônios sintéticos: primeira menstruação antes de 12 anos, última menstruação com mais de 50 anos, ausência de gravidez ou primeira gravidez depois dos 30 anos. O uso de anticoncepcionais por menos de 10 anos não mostrou aumento do risco e o uso de reposição hormonal pós-menopausa apesar de ter demonstrado um certo aumento do risco, porém a reposição tem mais benefícios.
– Genética: somente 8% de todos os Ca de mama são considerados hereditários. A metade desses são devidos à mutações em dois genes BRCA1 e BRCA2. Ocorrem mais em mulheres antes da menopausa. O aconselhamento genético é ainda controverso, podendo gerar muita ansiedade na mulher, sendo que não tem um valor prognóstico certo.
– Biópsia prévia com hiperplasia atípica: essa alteração apesar de ser benigna, tem uma maior tendência para evoluir para Ca de mama;
– Passado de Ca de mama já tratado
– Dieta: parece haver uma relação entre dieta rica em gorduras e Ca de mama, mas ainda não há comprovação certa.
– Exposição à radiação ionizante
Sinais e Sintomas
– Nódulo ou massa mamária: é a principal queixa em mamária que leva as mulheres ao médico. Entretanto, 90% são causadas por alterações benignas. Massas de consistência de borracha e macias estão geralmente relacionadas com fibroadenomas em mulheres entre 20 e 30 anos e cistos em mulheres entre 30 e 40 anos, ambas alterações benignas. Nódulos malignos são geralmente solitários, discretos, duros, sem aumento de sensibilidade local, em uma única mama, podendo em alguns casos estar aderido à pele ou parede muscular localizada debaixo da mama.
– Dor mamária: também chamada de mastalgia, é raramente associada com Ca de mama e está geralmente relacionada com alterações benignas pré-menopausa ou em mulheres na pós-menopausa recebendo reposição estrogênica. A dor nesses casos está presente juntamente com um inchaço mamário.
– Eritema (vermelhidão da mama), edema (inchaço da mama), retração da pele ou do mamilo estão comumente associados com Ca de mama.
– Secreção do mamilo: é considerada suspeita principalmente quando acompanhada de uma massa, vem de um único ducto, é espontânea e sanguinolenta. Na suspeita, faz-se mamografia e ductograma. Secreção verde ou preta e que vem de mais de um ducto habitualmente é normal. Em caso de secreção láctea bilateral deve-se procurar a causa da produção de prolactina.
Diagnóstico
As mulheres assintomáticas e sem história familiar, maiores de 20 anos devem ser orientadas para realizarem o auto-exame das mamas mensalmente. Aquelas entre 20 e 30 anos além de fazê-lo, devem ir ao ginecologista de 3 em 3 anos para um exame médico. Mulheres acima de 40 anos devem continuar fazendo o auto-exame mensalmente, ir ao médico e realizar uma mamografia anualmente. Caso haja fatores de risco, essa rotina deve ser modificada.
É importante lembrar que qualquer massa mamária percebida durante a gravidez deve ser investigada devido ao fato de 2% dos Ca de mama ocorrerem na gravidez.
Como Fazer o Auto-Exame?
Fique em frente ao espelho. Olhe para os seios com as mãos atrás da nuca e os cotovelos levantados, para que os músculos do peito se flexionem. Procure quaisquer alterações na pele ou tamanho e forma dos seios. Depois, sinta cada seio com a palpação durante o banho levantando um braço e usando a outra mão com os dedos ensaboados para fazer a palpação do seio a ser examinado. Use as polpas digitais dos dedos para sentir todo o seio pressionando-o contra o peito e também as axilas. Após o banho, palpe cada seio enquanto deitada em uma cama com um travesseiro sob os ombros. Da mesma forma que antes, no lado da mama a ser palpada deve-se ter o braço elevado e a mão atrás da nuca.
O achado de alguma alteração pode causar medo, mas a maioria delas são benignas. Muitas mulheres têm os seios dolorosos e inchados durante a menstruação. Nesse caso, espere alguns dias após a mesma para que o inchaço desapareça.
Mamografia
A mamografia de rastreamento é o exame apropriado para as mulheres assintomáticas e tem sua maior importância na faixa etária de 40 a 75 anos. A mamografia diagnóstica é realizada naquelas mulheres com sinais e/ou sintomas presentes. A importância desse primeiro exame (rastreamento) reside no fato de ter o Ca de mama uma mortalidade muito menor quando descoberto precocemente. É importante lembrar que existe a possibilidade de resultados falso-positivos na mamografia, especialmente em mulheres novas. Além disso, 10% a 15% de todos os Ca de mama não são detectados na mamografia. Uma massa palpável que não é vista na mamografia deve ser estudada com outros exames (ultrassonografia e biópsia com agulha fina).
Ultrassonografia
O ultrassom ajuda na diferenciação entre uma massa sólida e uma massa cística (que contém líquido) quando uma massa palpável não é vista na mamografia. É também muito útil em mulheres novas com tecido mamário denso. Não deve ser utilizada como método de rastreamento.
Biópsia
A biópsia é a retirada do tecido (parcial ou total) que forma o nódulo ou massa que se está estudando com a ajuda da mamografia ou ultrassonografia. Assim, o tecido poderá ser estudado microscopicamente através de lâminas preparadas no laboratório. Existem basicamente três tipos de biópsia que varia de acordo com a quantidade e a qualidade do tecido a ser estudado. Assim, pode-se fazer uma biópsia por aspiração com uma agulha fina, com uma agulha mais grossa ou uma pequena cirurgia para retirar toda a massa ou nódulo para que possa ser estudado como um todo. Por isso, o fato de se fazer uma biópsia não significa Ca de mama!
Conclusão
Com as informações acima, espera-se que as leitoras possam ter ficado mais familiarizadas com tais questões e que mais dúvidas possam ter surgido, pois somente através delas é que a curiosidade e o conhecimento podem aflorar. Procure regularmente seu ginecologista ou médico de família para uma prevenção adequada.
Fonte: American Family Phisycian August 1-2000